Grandes traders alertaram nesta terça-feira que os mercados globais enfrentam uma pressão sobre o óleo diesel, com a Europa sob o risco de uma escassez “sistêmica” que poderá levar ao racionamento do combustível.
Os diretores de uma das maiores tradings de commodities e da maior trader independente de petróleo do mundo estimam que até 3 milhões de barris de petróleo e seus produtos poderão deixar de vir da Rússia diariamente como resultado das sanções, depois que o país invadiu a Ucrânia. Os líderes corporativos fizeram suas declarações no FT Commodities Global Summit em Lausanne, na Suíça.
“A coisa com que todos estão preocupados é com o fornecimento de diesel. A Europa importa cerca de metade de seu diesel da Rússia e cerca de metade do Oriente Médio”, disse Russell Hardy, presidente da trader de petróleo Vitol, baseada na Suíça. “Essa falta sistêmica de diesel está aí.”
Essas importações significam que o fornecimento da Rússia responde por cerca de 15% do consumo de diesel da Europa.
Hardy disse que a mudança para um maior consumo de diesel na Europa, em detrimento da gasolina, ajudou a criar uma escassez do combustível. Ele acrescentou que as refinarias poderiam aumentar sua produção de diesel em resposta aos preços mais altos, à custa de outros produtos derivados de petróleo para reforçar a oferta, mas admitiu que o racionamento é uma possibilidade.
Torbjorn Tornqvist, cofundador e presidente do conselho de administração do Gunvor Group, com sede em Genebra, acrescentou: “O diesel não é um problema só da Europa; é um problema global. Realmente é”.
Tornqvist também disse que os mercados de gás da Europa não estão mais funcionando adequadamente, à medida que as traders enfrentam uma demanda enorme dos bancos por caixa para cobrir posições de hedge (proteção).
“Eu acho que eles realmente estão quebrados. Jamais pensei que alguém poderia dizer ‘ah, o gás abaixo de 100 [euros] por megawatt-hora é realmente barato”, disse ele.
Na semana passada, os maiores traders de energia da Europa pediram aos governos e bancos centrais que forneçam suporte emergencial de liquidez para manter os mercados de energia e gás funcionando, já que os grandes aumentos nos preços desencadeados pela crise na Ucrânia pressionaram os mercados de commodities.
Os contratos futuros de gás ligados ao TTF, o preço do gás no atacado na Europa, passaram de cerca de 70 euros o megawatt-hora antes da invasão da Ucrânia pela Rússia, para cerca de 230 euros duas semanas atrás e voltaram a cair para menos de 100 euros esta semana. Antes de maio de 2021, os preços do gás na Europa estavam abaixo de 20 euros o megawatt-hora.
Os traders de commodities enfrentam chamadas de margem crescentes – o porcentual do preço de um título que os bancos exigem que os traders tenham em dinheiro.
Hardy disse que a participação do gás no mercado spot (à vista) diminuiu porque o custo de negociação subiu muito.
Para transportar uma carga equivalente a 1 megawatt-hora de gás natural liquefeito (GNL) ao preço de 97 euros, os traders precisam fornecer 80 euros em dinheiro, o que está pressionando suas exigências de capital, disse Hardy.
Tornqvist disse que as empresas europeias de serviços públicos terão dificuldades para encher os espaços de armazenagem para o próximo inverno, devido ao estado “paralisado” do mercado spot para gás, a menos que as autoridades interfiram para fornecer garantias de proteção aos compradores contra as oscilações dos preços.
Por Financial Times
Publicado em 23/03/2022 - 14:03